31 October 2009

Valores da biodiversidade - variedades da natureza

Viagem à diversidade...
Reflectir sobre os valores da biodiversidade é um assunto complexo e pode ser dividido em aspectos económicos, sociais e ecológicos.
A Biodiversidade pode ser vista como um grande armazém, que temos que gerir com muito cuidado, para podermos usufrí-lo nós e as futuras gerações. Um manejo descontrolado, no fim, destruirá o armazem e trará consequências negativas relativamente aos três aspectos já mencionadas (économicos, sociais e ecológicos). Analisar mais ao pormenor esses aspectos é um dos objectivos deste blogue.
Um valor, sem dúvida, é a produção alimentar e medicinal da qual dependemos todos nós.
No armazém "Biodiversidade", ainda há muito para descobrir: Estima-se que 10.000-50.000 plantas do nosso planeta são comestível, mas só 150 são utilizadas para a alimentação humana (Bryant, P.J., Biodiversity and Conservation, USA, 2002, pág.64).
90% da alimentação mundial deriva de 15 éspecies (ibid.). Depender de poucas espécies pode tornar-se perigoso, visto que a probabilidade de doenças (daninhas) aumenta, e, em caso de temporais ou períodos de seca, uma colheita insuficiente pode causar danos não só na região afectada, mas também ao nível nacional ou até internacional, como os nossos mercados são cada vez mais globais e interligados.
As florestas tropicais, altamente em risco, só cobrem 7% da superfície da terra, mas são o habitat de mais do que a metade de todas as espécies existentes (Wilson, E.O., "The current state of biodiversity", 1988, p. 6). Nesse habitat, estima-se que há mais de 1650 plantas tropicais que são combustíveis. Algumas delas começaram a ser comercializadas (Bryant 2005, ibid.). Fui à procura de nomes exóticos como pupunha, lulo ou buriti, e encontrei muitas surpresas: A palmeira pupunha cujos frutos são utilizados há muito na alimentação indígena, mas também para processos indústriais e que tem um grande valor para a economia (sobretudo brasileira e costa ricana); os frutos do lulo  que dão um sumo saboroso, mas que quase não são comercializados ainda, os frutos do buriti que são ricos em vitamina C e que têm valor medicinal...
Investigação e um consumo responsável constituem passos importantes na conservação da biodiversidade e podem trazer ao mesmo tempo benefício económico e estabilidade social. Concluindo com as palavras do Millenium Ecosystem Assessment (coordinado pelo UNEP, publicação "Biodiversity Synthesis, USA, 2005, pág. 30): "Biodiversity and the many ecosystem services that it provides (is) a key instrumental and constitutive factor for human well-being."
Agora, viajem comigo um pouco!
Slideshow sobre algumas surpresas do grande armazém, já disponível nas prateleiras do supermercado...

6 comments:

  1. Olá, Antje!

    Podes pesquisar também Piqui, Oiti, Macaíba, Taioba, Açaí... :)

    Gosto da ênfase que deste ao aspecto alimentar da biodiversidade. Afinal, é verdade que a alimentação tem bases diversas ao redor do mundo e que a cozinha de cada lugar nos diz muito sobre a sua história e sobre a sua biodiversidade.

    Só não gosto muito do termo "armazém", pois coloca a biodiversidade como uma caixa onde vamos buscar aquilo que precisamos. Embora essa busca seja verdadeira e necessária, não devemos esquecer que somos parte integrante da biodiversidade.

    Beijinhos

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  2. Olá Natália,
    Compreendo o teu argumento muito bem, porque ao início estive exactamente com essa dúvida relativamente ao termo "armazém". Até falámos aqui em casa sobre o pro e contra, e no fim, decidi de o utilizar, pelas seguintes razões: Um armazém, se for utilizado por vários "partidos", implica uma gestão muito cuidadosa e inteligente, para não "ser destruído" e ficar vazio em pouco tempo, falando em imagens. Como todos nós fazemos parte, como disseste, e dependemos dele ao mesmo tempo, a destruição do armazém teria consequências catastróficas em todos os aspectos (económicos, sociais e ecológicos). Tentei deixar clara essa mensagem no meu texto, porque concordo perfeitamente contigo, que não nos podemos servir de uma maneira como nos apeteça melhor e como nós dê mais jeito.
    Escolhi também de propósito o termo 'usufruir'(de latim usufruere = gozar do uso) em vez de 'utilizar', porque, se entendi bem, esse verbo implica mais responsabilidade e dá mais valor relativamente ao direito do usufruto, do que simplesmente 'utilizar'. Embora infelizmente não tenhamos ainda uma instância judicial que regula e define "direitos" sobre o meio ambiente, gostaria de dar uma conexão ao termo usufruir no sentido de valorizar esse "direito" do usufruto de uma variedade magnífica, e incluir ao mesmo tempo o dever de actuar razoavelmente, com respeito, e apropriadamente.

    Contudo, a minha ideia de se aproximar ao aspecto dos valores da biodiversidade, era de mostrar as várias ligações entre alimentação, variedade, conservação e aspectos económicos. Por um lado, fiquei surpreendida que em geral, a nossa alimentação baseia-se em 15 espécies raízes. Pensando nos riscos que uma dependência tão limitada poderá trazer, nas muitas variações de espécies quase já não conhecidas (por exemplo, os diferentes cereais, diferentes géneros de batata, tomates, maçãs que se cultivava antigamente e hoje em dia muitos quase já não existentes) e tantas ainda não descobertas, quis mostrar um pouco da grande variedade da biodiversidade e "trazê-la" mais perto. Essa mostra, é sem dúvida, muito incompleto, mas espero ter conseguido fazer uma ligação à utilidade e valor dos produtos obtidos dessa grande variedade e à importância de a conservar. E afinal, sou muito curiosa,e quando leio "pupunha" ou "lulo" ou "guanabana" quero saber o quê é, atribuir uma imagem e alguma característica!
    Quinoa e amaranto já conhecia, como já é bastante utilizado nas misturas de produtos de cereais, como Muesli, mas pesquisando os outros nomes levou-me a uma viagem muito muito interessante!

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  3. Olá Antje,

    Reflectir sobre os valores da biodiversidade é um assunto realmente complexo. Sobre este assunto voltarei depois com mais vagar para prosearmos um pouco.
    Contudo, quero deixar-te aqui uma pequena reflexão, sobre uma outra abordagem não menos interessante que trás à baila os

    "Factores limitantes da riqueza específica", são os

    -Factores ecológicos

    Hipótese da produtividade – estabilidade - Existem correlações entre a produtividade e a riqueza especifica ao longo de alguns gradientes de latitude e altitude. Esta relação não é linear pois alguns dos ecossistemas mais produtivos (estuários, sapais) apresenta uma riqueza específica baixa.

    Hipótese da competição/predacção - A predacção pode aumentar a riqueza específica se os predadores consumirem sobretudo as espécies dominantes. Pelo contrário pode impedir a riqueza específica se impedir que as espécies vulneráveis se instalem.

    Hipótese da perturbação - Em muitos habitats a riqueza específica máxima ocorre em níveis médios de perturbação.

    Jorge Ramalho

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  4. Olá Antje,
    Também gostei da abordagem que destt ao valor alimentar da biodiversidade, no entanto muitas outras utilidades tem este recurso e também com os valores deveras importantes.
    Para mim e antes de algumas leituras seria quase impossível falar em valores económicos
    da biodiversidade, mas compreendo agora que muito embora este seja um recurso "com valor incalculável",é no entanto importante estimar-lhe um valor económico para contribuir para a sua preservação.
    Sandra

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  5. Olá Antje
    A tua análise do valor da biodiverisdade está muito criativa, no entanto, como já referiram os colegas, a biodiversidade não pode ser encarada na componente alimentar mas numa multiplicidade de elementos.
    O ter que fixar um valor para a sua conservação é que já é mais delicado. como é que valoriza mais uma espécie em relação à outra? Isso também poderá ter um efeito preverso.
    Vânia

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  6. Olá Vânia,
    Concordo absolutamente contigo que o valor da biodiversidade não pode ser encarada só na componente alimentar, mas numa multiplicidade de elementos.
    No meu texto, sublinho a interligação entre os vários aspectos. Elaborei a componente alimentar como UM exemplo, entre os vários aspectos, para mostrar UMA possibilidade de aproximação ao tópico do valor da biodiversidade.
    Atribuir valores à biodiversidade reflecte o dilema em que estamos:
    Ponderar valores éticos, culturais e económicos. E nem é sempre possível ponderar, mas mais uma questão de ter todos os aspectos em consideração de uma maneira mais equivalente possível.
    Atribuir preços justos me parece impossível; aproximar-se de diferentes perspectivas, porém, pode ser esclarecedor.
    O cálculo, referido no capítulo de Bryant em questão, por exemplo, tentou mostrar qual seria o custo se tivéssemos que produzir artificialmente tudo aquilo que os "serviços ambientais" (Bryant 2002, p. 76) nos "oferecem". Estimaram entre 16 e 54 trilhões de U$ por ano. Para mim, aqui a ideia principal não é tanto de saber valores numéricos, monetários, concretos, até já são números que ultrapassam a minha imaginação, mas de mostrar e sublinhar o grande valor em si da biodiversidade e quanto a precisamos. Porque, pensando até o fim, nenhuma economia no mundo teria suficientes recursos para produzir artificialmente tudo aquilo que a sociedade precisa. Para mim, não é a questão de atribuir um certo valor a uma espécie e outro valor a outra espécie, seria a aproximação errada.
    Embora não me considere nenhuma adepta da visão economista da natureza (incluo-me mais no grupo dos adeptos da visão intrínseca e talvez ética), aprendi com o conceito da sustentabilidade quanto importante é considerar os aspectos sociais, ecológicos e económicos em conjunto. O triângulo da sustentabilidade constitui para mim, de uma forma muito clara, a ligação entre os 3 aspectos, cada um com um valor equivalente. Faz-me, mais uma vez, reflectir como queremos manter o OIKOS, como queremos viver nesse OIKOS... termo do que deriva tanto o termo eco-nomia como eco-logia...
    Até breve,
    Antje

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